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Como diz meu filho mais novo, somos uma família “bichenta”. Amamos todos os bichos, selvagens ou domésticos. Mas, não há como negar, somos defintivamente uma família “gatífera”. Tenho uma admiração sem fronteiras por estes animais. Já tive (e continuo tendo), muitos gatos. Ou como eu gosto de dizer: ninguém pode ser “dono” de um gato e sim “Guardião” de um deles.

Eles passaram em minha vida hora muitos (cheguei a ter dezessete), hora médio (hoje tenho sóóóó seis), mas nos últimos anos nunca consegui ter menos do que quatro gatos em minha vida.

Neste primeiro post desta categoria, quero compartilhar a história de duas gatinhas que marcaram minha vida e são absolutamente inesquecíveis para mim.

 

MIMI – A PRIMEIRA

Mimi era uma gata vira-latas que tive quando criança (ou Pelo Curto Brasileiro – sim, nossos vira-latas malhados e de todas as cores possíveis foram registrados e viraram raça, recentemente, você sabia?)

Era uma de uma fertilidade assombrosa: dava sete gatinhos em cada ninhada e as ninhadas vinham umas três vezes ao ano. Eu morava numa pequena comunidade rural, não havia nem médico, nem dentista, imagina veterinário!

Então outro dia perguntei ao meu pai o que era feito de toda aquela abundância de gatinhos. Ele engasgou e mudou de assunto, saindo da sala apressado. Resolvi não investigar mais a fundo, mas o que as pessoas naquela época – num povoado que não tinha nem médico, quem dirá veterinário – podiam fazer a não ser “sumir” com os bichinhos? Considerando que uma única gata pode ter mais de 20 filhotes num ano… Mas essa ideia ainda me entristece.

Mas, vamos ficar no vórtice de cura: eu amava aqueles gatinhos. Ficava toda arranhada, porque chegava da escola e ficava horas pegando os pobres gatinhos, ainda de olhos fechados. Mimi me olhava condescendente, entendendo perfeitamente aquele meu amor desmedido. Ela SABIA o que eu estava sentindo!

Ela tinha os gatinhos nos lugares mais escondidos e inusitados, mas com um detalhe interessante: com uma entrada cujo tamanho só permitia que EU fosse a pessoa que resgatava ela e os gatinhos e os trazia para o porão da casa, onde ela ficava com a filhotada. E a entrada dos lugares escolhidos foi crescendo conforme eu crescia.

Minha mãe tentava me convencer de dar a Mimi. Aí eu começava a me despedir dela e tinha febres altíssimas, ficava doente, daí ela me dava mais um tempo com a minha amada.

Eu chegava da escola e todos os dias – menos quando ela estava parindo – a bichinha estava na escada, feito um gato-cachorro, me esperando, naquela posição de esfinge elegante própria da raça – qualquer raça – de gato. E dava um miado de prazer ao me ver. Eu jogava a mochila e, antes de qualquer coisa, abraçava minha amada parideira.

Mimi teve um fim trágico – finalmente foi doada para o mendigo local (o Tucha) enquanto eu estava fora. Ele, certamente com muita fome, e a sacrificou para compor um almoço. Eu encontrei a bichinha ou os pedaços dela. Mas só lembrei disto muito depois, pois a gente “esquece” de algumas coisas difíceis, para poder sobreviver a elas. É um bem elaborado esquema de nosso Sistema Nervoso para lidar com eventos traumáticos. E a partir daí, deixei de gostar de gatos, até que veio a…

SAFIRA – A SEGUNDA

Aos 27 anos eu ainda não “gostava” de gatos. Me mantinha longe deles, certamente numa atitude inconsciente de evitar sofrer a perda.

Mas todo coração “gatífero” um dia se apaixona e se cura… Safira, uma gatinha branca e pequena, peludinha, com uns estonteantes olhos cor de safira.

Eu estava jantando na casa de amigos e de repente o marido entra segurando uma gatinha de uns dois meses pelo cangote. Era julho, estava frio. Ele disse:

– Essa gata tava de novo na roda do meu carro. Vou acabar matando a criatura sem querer.
Eu perguntei: – Ela é de vocês?
– Não, os vizinhos se mudaram e a deixaram abandonada.
Olhei aquela bolinha branca-com-olhos-verdes e ela me deu um “daqueles” olhares que lhe atravessam, e miou baixinho. Eu disse, intempestivamente:
– Então fico com ela, vou levar.
Meu amigo riu e disse – Mas você nem gosta de gato!

Em silêncio e tremendo de emoção, peguei a bichinha gelada e coloquei dentro do meu casaco. Ela foi subindo e ficou no meu ombro, embaixo do casaco, ronronando baixinho. Ah, re-conectei imediatamente com “aquele” amor de criança, comecei a me curar ali da perda da Mimi.

A Safira ficou comigo 19 anos de uma vida plena. Morreu em 06 de janeiro de 2011, nos meus braços, me olhando fundo nos olhos e espichando os dois bracinhos magros para me abraçar. Foi uma grande companheira, uma grande curadora e uma lição do tamanho do Mundo.

Eu dedico esta categoria Gatos & Outros Amores para a Safira, a Mimi e a todos os gatinhos do mundo que estão aqui para curar nosso coração.

P.S.: A Safira teve duas ninhadas, com três gatinhos cada. Tive que ficar ao lado dela, de “parteira”. E sim, fiquei com todos os filhotes. Foi assim que comecei a chegar perto do número 17.