O conceito em si não é novo – onde não há incômodo, não há transformação. Se tivermos um mínimo de conforto, nossa tendência é não mudar, porque temos um medo ancestral de mudanças. Talvez porque carreguemos as memórias de mudanças passadas que não deram certo. Sim, sim, porque apesar do “culto” as mudanças (eu sou uma das devotas seguidoras deste culto), há mudanças erradas que nos custam décadas – para não dizer vidas! – para corrigí-las e retomar a rota do crescimento e da evolução.

O momento da mudança frequentemente acontece quando há muita estagnação. Mas não é a estagnação que traz as mudanças, pois a energia no lugar da estaganação é de trégua, pura e inerte energia branca. É o INCÔMODO com a estagnação que traz o BASTA feito de fogo que gera as mudanças.

Igualmente mudamos quando estamos cansados de sofrer e, novamente, é o INCÔMODO com a sensação de que o que somos não vai sobreviver que nos ajuda a acessar a RAIVA – energia vermelha que é o primeiro passo para cima na escala emocional cujo último estágio é a felicidade. Começamos nossa jornada rumo a felicidade almejada primeiro fazendo um “pit stop” em sentimentos menos valorizados como a raivas, a revolta e afins, que elevam nosso INCÔMODO a potências altíssimas, o que nos enche de impulso para sair da estagnação.

Do mesmo modo precisamos estar “de saco cheio” com algum padrão de auto-boicote – os famosos Sabotadores Internos que puxam nosso tapete – para ferozmente decidirmos entender e curar o que nos leva a sucumbir diante desta parte daninha de nós mesmos.

O incômodo é como uma vara que cutuca nos lugares certos – sem ferir – apenas como um lembrete que algo precisa ser olhado, algo exige TOTAL PRESENÇA.

Quando meditamos, especialmente se somos iniciantes, o incômodo – da posição, do tentar parar os pensamentos, funciona como um “sino” que nos chama à presença do nosso corpo e de nossa realidade material, o famoso “aqui-e-agora”.

O incômodo é um grande aliado. Porém, de modo geral não o ouvimos. Tal qual glutões que só param de comer ao acessar um profundo mal estar, somos treinados a aguentar nossas “pedras no sapato”. Temos todo um sistema cultural e de crenças que não estimula as mudanças, pois teme que pessoas ao mudar desestabilizem casamentos, famílias, empresas, nações. E este medo está profundamente introjetados em nós.

Quando misturamos dois elementos  que reagem um ao outro quimicamente, quando o equilíbrio é alcançado, isto é, que todas as interações e combinações possíveis já foram realizadas, temos total imobilidade. Total imobilidade, sem nenhum movimento – isso é a morte. A estabilidade total é a morte. Não há mais incômodo = não há mais vida. (Portanto, quando você pede um relacionamento a dois totalmente estável e equilibrado, você pode estar pedindo um relacionamento morto-morno, onde todas as combinações possíveis já foram realizadas. Mas isso é outro post!)

Então eu o convido hoje a olhar os incômodos da sua vida, a senti-los, a estar totalmente PRESENTE com eles, atento e focado. Observe-os sem julgamento, como um pesquisador. Se você olhar além do binômio bem-mal, lá no fundo deste incômodo verá surgir a força que habita no centro de você mesmo, criando as condições para a mudança que pulsa, cheia de vida e novas possibilidades.

Sem incômodo não há transformação é um de meus “mantras” prediletos. Mas o segredo de sua utilidade consiste em não ceder a tentação de projetar este incômodo para fora de você – nos outros, nos governantes, na falta disso ou daquilo. É preciso ter a coragem de mergulhar verticalmente dentro – no que incomoda você EM VOCÊ. Não fugir deste confronto e ficar dias, meses ou até anos presente com o que o incomoda em você mesmo permite acessar a força poderosa para mudar isso, nem que seja transformar o incômodo em ACEITAÇÃO daquilo que é imutável, daquilo que É.

Não importa onde você chega no final do processo, pois como tantos sábios já nos disseram, o verdadeiro e precioso aprendizado está em percorrer o caminho e não no ponto final da Jornada. A Jornada é o que realmente importa. Escolha os sapatos mais confortáveis, se abasteça de alguma água e não esqueça de prestar atenção na PEDRA NO SAPATO – aquele pequeno incômodo que cresce, impulsionando você a parar e fazer os ajustes de rota necessários para acessar todos os recursos que permitam um belo e proveitoso passeio nesta vida, neste corpo, neste mundo!