Quando meu filho mais novo tinha uns seis anos ele costumava dizer que nossos bichos eram “nembros” da família. E dizia também que éramos uma família “bichenta”, significando que gostávamos (e gostamos!) de ter bichos de estimação, de preferência, pelo menos cinco. Ou seis. Já tivemos dezessete – o que, concordo com você – era um exagero.

Então, chegou a hora de apresentar a vocês o mais novo “nembro” da família, o Lucky, que significa “sortudo” em inglês.

O Lucky está com a gente desde Janeiro deste ano, 2015 e é, portanto, o mais novo membro da nossa família bichenta. É um cachorro SRD (o velho e bom vira latas), de porte médio para grande. Ele seguiu a mim e ao Spike numa de nossas caminhadas diárias. Eu fui dura com ele, pois vi que era macho e o Spike ataca até fêmeas, é muito bravo na rua este meu doce Golden Retriever. Enxotei, falei grosso, bati com força no chão, significando:

– Fora!

Mas ou ele estava muito desesperado ou percebeu rachaduras naquela armadura de dureza que eu tentava mostrar. A verdade é que ele nos seguiu por todo o nosso passeio e foi se aproximando cada vez mais. De repente o Spike parou, eles se olharam longamente e eu pensei – ai-meu-deus, agora vai ter briga. Que nada! O Lucky abanou o rabo e lá na língua de cachorro deles eles se entenderam, e se cheiraram e o Spike – para meu completo espanto – o ACEITOU. Ele não aceita NENHUM cachorro, é muito ciumento.

O Lucky era e é um cachorro bonito, não parecia estar abandonado, embora estivesse meio magrelo. Pensei que ele iria com a gente e quando chegássemos no portão, ele voltaria para seus donos. Quando abri o portão ele entrou como se sempre tivesse vivido ali – ele estava mesmo decidido a arrumar um novo lar.

Deixei ele entrar, receosa. Depois me arrependi e o enxotei porta afora. Daí abri uma frestinha do portão para ver se ele tinha ido e ele estava sentadinho esperando, com aquela cara de cachorro que caiu da mudança. E estava se armando o maior temporal. Já sentiu o quadro, não é?

Deixei ele entrar pensando em procurar seus donos no dia seguinte. E aí aconteceu o mais inesperado: ele e o Spike brincaram loucamente, pareciam velhos amigos que tinham ficado vidas sem se ver e depois de brincar até o meu senhor de meia idade estar de língua de fora, comeram respeitosamente suas rações e dormiram um com a cabeça sobre o outro.

No dia seguinte levei-o ao veterinário, pois reparei que tinha uma conjuntivite que, dois dias depois o Spike também estava. E aí começaram a aparecer os estragos que uma vida na rua causa a um cão: vermes (muitos!), anemia e otite. Mais um pouquinho e ele teria deixado de ser aquele cão bonitão  e bem disposto com chances de ser adotado.

Lucky 1

Aí, Queridas Pessoas, vocês já estão imaginando o fim desta história, não é? Isso mesmo, ele ficou. E rapidamente começou a fazer parte de nossa rotina. Ainda não nos recuperamos da confusão que veio com ele: o jardim já era, a casa está sempre suja porquê ele cava, fuça e chapinha na lama, pois ainda é filhote. Os dois cachorros – agora o Lucky ficou bem grande também – ocupam os espaços e quando resolvem brincar e correr é melhor sair do caminho senão você acaba sendo atropelado!

Mas veja, o Lucky tem uma qualidade única: ele me “avisa” quando alguma energia densa (espiritual) tenta invadir o Espaço Sagrado de nossa casa. Ele olha para o nada, ele geme, ele dá latidos curtos e me olha, só falta falar:

– Você está vendo ISSO?

– Sim, meu querido, agora que você sinalizou, estou vendo e já vou providenciar ajuda espiritual e proteção para todos nós.

E ele só se acalma quando conseguimos neutralizar o tal “ataque”.

Vocês podem achar que o Lucky é um cara de sorte, mas começo a achar que ele é um Anjo da Guarda disfarçado de cachorro.

E não são todos os cachorros isso mesmo, Querida Pessoa?